Disciplina - Cinema

Cine Vitória

O Cine Vitória (segundo) foi inaugurado em 1963, com o filme "Taras Bulba", de J. Lee Thompson, e foi o 1º cinema a ter aparelho com bitola 70mm. Naquela noite de luzes e cumprimentos, com a presença das autoridades do governo, tais como Ney Braga, o secretário Jucundino Furtado, da Educação e Cultura; Aristides Simão, secretário do Trabalho; Ítalo Conti, secretário da Segurança Pública e o prefeito Ivo Arzua, centenas de nomes conhecidos se deslumbraram com a "modernidade" do cinema, seu amplo hall de espera, suas estátuas de bronze.

Construído pela família Johnscher - descendentes do pioneiro hoteleiro Francisco Johnscher, dono do Grande Hotel Moderno, o Cine Vitória foi operado em seus primeiros anos pela antiga Orcopa, liderada por Ismail Macedo, executivo que durante quase 20 anos controlou a política cinematográfica em Curitiba. Passando depois para o grupo Zonari, que chegou a possuir mais de 30 salas de exibição em vários Estados.

Para a sessão de inauguração no Cine Vitória, chegou a ser anunciado o lançamento do filme "Geronimo" (Gerônimo, Sangue de Apache), western de 1962 produzido, dirigido e escrito por Arnold Laven, com Chuck Connors e a atriz Kamala Devi. Produção distribuída pela United Artists, na última hora foi substituída por um filme mais famoso na época: "Taras Bulba", também produção do ano de 1962, com Yul Brynner, Tony Curtis, Christine Kaufmann. Rodado nos pampas argentinos, em 1961, com direção do inglês J. Lee Thompson, durante as filmagens teve início o romance de Curtis com Christine por quem trocaria sua esposa, Janet Leigh (o casamento com Christine resistiria apenas quatro anos). No elenco de "Taras Bulba", uma produção de Harold Hecht, estavam também George MacReady, Sam Wanamaker, Brad Dexter, Pery Lopes e Vladimir Skoloff, que morreria dias depois do encerramento das filmagens.

Menos de 7 meses após a inauguração do Vitória, seria justamente Janet Leigh, ex-esposa de Curtis, a grande presença numa outra pré-estréia no Vitória, por ocasião da penúltima das festas do "Tribunascope", promoção que Júlio Netto realizou durante alguns anos em Curitiba, sempre com presença de artistas nacionais e internacionais. Transferida do antigo Cine Ópera para o Vitória, o Tribunascope de 1964 aconteceu na noite de 13 de abril. Ali estiveram, em abril de 1964, além de Janet Leight, Anthony Perkins e Karl Malden, que deixaram no cimento as suas mãos[26]. Alguns artistas brasileiros também vieram para aquela noite do Tribunascope - como Jece Valadão, Vanja Orico e Irma Alvarez.

Meses depois, também em promoção da Tribuna do Paraná, outra pré-estréia ali acontecia, “Matka Joanna of Anilow” (Madre Joana dos Anjos), com a presença do diretor polonês Jerzy Kawalerowicz, então com 37 anos e sua esposa, a atriz Lucyna Winnicka. Novamente, um espaço em cimento era providenciado para receber as palmas das mãos - as quais se seguiram, no mesmo ano, de outros artistas internacionais de passagem por Curitiba: Nancy Kovacs, Stanis Ghianellis (de "Terra do Sonho Distante/ América, América", 1963), Mery Welles, Troy Donahue.

Com 1.800 poltronas, o Vitória buscava grandes bilheterias, tais como "Rambo", "The Exorcist" (O Exorcista), entre os quase 15 mil filmes exibidos no Vitória ao longo de seus 23 anos. Acolheu as grandes realizações da Pró-Música, quando o preço do dólar permitia contratações de sinfônicas internacionais. Em junho de 1971, a Orquestra Sinfônica de Utah, regida por Maurice Abravanel; no ano seguinte, em abril de 1972, a ORTF (Orquestra da Rádio e Televisão Francesa), regida por Jean Martinon, e em julho de 1974, foi a vez da Orquestra Juvenil da República Federal da Alemanha, regida por Volker Wangenheim. Há 21 anos, em janeiro de 1967, no Vitória também acontecia o concerto de encerramento do II Festival Internacional de Música.

Vendido o prédio ao governo do Estado, através de negociações conduzidas pela Secretaria da Indústria e Comércio, o Vitória foi totalmente reformado para sediar um Centro de Convenções, com uma área de aproximadamente 8 mil metros quadrados, conforme estudo preliminar do arquiteto Luís Forte Neto.

No dia 30 de dezembro de 1986, no 3º tabelionato, o cartorário Iraci Viana sacramentou a escritura de venda do imóvel de 5.380 metros onde, há 24 anos, funcionava o Cine Vitória. Dos Cz$ 28.378.380,00 que o governo João Elísio, através da Secretaria da Administração, pagou pelo imóvel, Cz$ 9.300.000,00 foram para a Vitória Cinematográfica, pertencente aos irmãos Zonari. O saldo de Cz$ 19.078.380,00 foi dividido entre os herdeiros da família Johnscher: Ilona Elga Ribeiro, Fernando Veiga, Heda Margô Johnscher, Fritz Sigesmundo Liebel, Mara Erva Lidia Niemeyer, Edi Edla Niemeyer, Udo Niemeyer, Edwin Vitor Johnscher e Guiomar Johnscher Fornassori.

O Cine Vitória foi definitivamente fechado, então, em 28 de janeiro de 1987, passando a ser um Centro de Convenções:
“Hoje à noite, quando os detalhados créditos de "Gandhi" se apagarem na encardida tela panorâmica do Cine Vitória e o operador José Haroldo Suriam desligar a velha Cine-Mecânica-Vitória, a cabina de projeções daquele que foi o maior cinema de Curitiba estará totalmente fechada. O gerente Wilson Antonio, chaveará, pela última vez, as portas de entrada do cinema e, amanhã, bem cedo, Aleixo Zonari entregará o prédio para a Secretaria da Administração. Completa-se, assim, o funeral do Cine Vitória, inaugurado há 24 anos e que, sem choro ou velas, morre para que a cidade ganhe um discutido Centro de Convenções”. (Aramis Millarch, “A Útima Sessão do Cine Vitória”, O Estado do Paraná, 27/01/87).
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