Disciplina - Cinema

O Código Da Vinci

Pôster de "O código Da Vinci" O filme “O código Da Vinci” foi produzido no ano de 2006, tem direção de Ron Howard, roteiro de Akiva Goldsman, e foi adaptado da obra literária homônima de Dan Brown. 
É interessante dizer que o autor não tenta nos revelar um novo evangelho, mas apenas antigas colocações gnósticas sobre a vida de Jesus Cristo e os primórdios da igreja cristã. Também não nos cabe, neste trabalho, decidir ou argumentar sobre se os fatos históricos e personagens do livro são ou não verdadeiros, mas passear pelo filme, identificando referências simbólicas às Artes Plásticas e à História Geral. 

Para argumentar sua criação artística, Brown utilizou algumas fontes principais: “O Evangelho”, de Filipe e “O Evangelho”, de Maria (ambos são textos gnósticos descobertos em Nag Hammadi, no Alto Egito, em 1945); o livro “Holy Blood and Holy Grail e sua linhagem de sangue”, de Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln, publicado inicialmente em 1981; o livro “The Templar Revelation: Secret Guardians of the True Identity of Christ”, de Lynn Picknett e Clive Prince. Outro livro do gênero pesquisado por Brown foi “The Woman with The Alabaster Jar: Mary Magdalene and the Holy Grail”, de Margaret Starbird. Todos têm um forte teor especulativo e um alto apelo a favor das doutrinas da Nova Era. 

A história tanto do livro, quanto do filme, se passa em Paris, em uma noite em que Silas, um monge albino, mata, com um tiro, o curador do Museu do Louvre e integrante do “Priorado de Sião”, Jacqués Saunière. O monge trabalha para um dos vilões, denominado apenas como “Mestre” (mais tarde descobrimos que se trata de Sir Leigh Teabing, um rico bretão, obcecado por encontrar o Santo Graal), e para o Bispo Aringarosa, pertencente ao Opus Dei, seita da parte ultraconservadora da Igreja Católica. Seu objetivo: eliminar os 4 guardiães do Santo Graal e descobrir onde este se encontra escondido, evitando que a grande “verdade” sobre as bases da Igreja Católica venha à tona: Jesus Cristo foi casado com Maria Madalena e, juntos, tiveram uma filha, Sarah, e que seria Maria Madalena a pessoa que Cristo teria deixado para dirigir a sua igreja e semear os fundamentos do Cristianismo. 

Na história criada por Dan Brown, Maria Madalena, seus seguidores e seus protetores, os Cavaleiros Templários, fogem para a França, evitando a perseguição que lhe foi imposta pelos apóstolos, principalmente por Pedro. Para exterminá-la, a Igreja teria organizado a “Caça às Bruxas” e queimado de 30 a 50 mil homens e mulheres na fogueira, acusados de feitiçaria, durante quatro séculos.
Apesar de seus 149 minutos, uma história bastante longa, o filme é ágil e prende a atenção do espectador, embora grande parte do público o tenha vaiado em Cannes, e a crítica apresente sérias restrições quanto à adaptação para o cinema.

                                              Imagem do autorretrato de Leonardo Da Vinci

                                         Possível Auto-retrato de Da Vinci.

Entretanto, deixemos de lado o que dizem os “detentores” da razão quanto à teoria cinematográfica para nos fixar na temática abordada pela película. “O Código Da Vinci” trabalha com uma rica e farta simbologia, nos proporcionando um belo passeio pela cultura mundial, bem como pela obra de um dos maiores gênios renascentistas: Leonardo Da Vinci. 

O grande mestre italiano viveu de 1452 a 1519. Foi pintor, matemático, escultor, arquiteto, físico, escritor, engenheiro, poeta, cientista, botânico e músico, embora não tenha tido formação acadêmica em nenhuma dessas áreas. “Leonardo da Vinci é considerado o maior gênio da história, devido à sua multiplicidade de talentos para as ciências e artes, sua engenhosidade e criatividade, além de suas obras polêmicas.” (GOMBRICH, 1972, p. 222). 

Mas voltemos ao filme. A história tem início com uma palestra, em Paris, na França, na qual o professor americano, Robert Langdon, fala sobre seu último livro “O sagrado feminino”. Langdon é especialista em simbologia cristã e pagã, ou seja, figura fundamental para decifrar as mensagens cifradas deixadas pelo curador do Museu do Louvre, antes de sua misteriosa morte. 

Quando é requisitado pela polícia francesa, adentra o Museu e se vê diante do corpo do curador, estendido no chão, na posição de um dos desenhos feitos por Da Vinci, o “Homem Vitruviano”, e com um pentagrama desenhado no peito, percebe que esses símbolos não estão ali, dispostos, por acaso. Parece que o curador, antes de morrer, só pensou em deixar, por meio de enigmas e anagramas, as informações secretas do Priorado de Sião para a sua neta, Sophie Neveu, uma agente do Departamento de Criptologia da Polícia Judiciária francesa e especialista em decodificação. 

Nesse momento da história, a câmera faz uma panorâmica e nos presenteia com algumas das obras mais raras e conhecidas, guardadas pelo Museu do Louvre, em Paris.

                                                 Imagem frontal do Museu do Louvre, em ParisO Museu do Louvre (Musée du Louvre), instalado no Palácio do Louvre, em Paris, é um dos maiores e mais famosos museus do mundo.

A posição, no chão, que encontra Jacqués Saunière, e os desenhos e mensagens escritas ao seu redor, fazem com que a mente de Langdon comece a processar, rapidamente, inúmeras relações, porém a primeira é com Da Vinci, justamente o que esperava o curador. 

Seu próprio corpo faz referência ao “O Homem Vitruviano”, desenho que integra uma série de dez livros, intitulados de “De Architectura”, escritos por Marcus Vitruvius Pollio, no século I A.C., que acompanhava as notas que Da Vinci fez ao redor de 1490, em um de seus diários. 

“O redescobrimento das proporções matemáticas do corpo humano no século XV, por Leonardo e os outros artistas, é observado como uma das grandes realizações que conduzem ao Renascimento italiano. Esse desenho também é considerado, freqüentemente, como um símbolo da simetria básica do corpo humano, que se estende para o universo como um todo.” ( Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Homem_Vitruviano_(desenho_de_Leonardo_da_Vinci)). 

           Desenho atribuído a Leonardo Da Vinci, "O homem vitruviano"O Homem Vitruviano, desenho que faz parte dos estudos de Da Vinci. 

Não se pode falar de Leonardo Da Vinci, de sua produção artística e de seus estudos a respeito do referido desenho, sem os situar no contexto do Renascimento. 

Entre o fim do século XIII e meados do século XIV, a Europa passou por diversas transformações em uma multiplicidade de áreas, como cultura, sociedade, economia, política e religião, caracterizando a transição do Feudalismo para o Capitalismo, assinalando, ainda, o final da Idade Média e o início da Idade Moderna, período que ficou conhecido como Renascimento ou Renascença. O termo “renascimento” foi usado em virtude da redescoberta e da revalorização das referências culturais da Antigüidade Clássica, que nortearam as mudanças deste período em direção a um ideal humanista, que passou a fazer uso da razão individual e da evidência empírica para chegar às suas conclusões, bem como afirmou a dignidade do homem e o tornou um investigador da natureza por excelência. 

“O brilhante florescimento cultural e científico renascentista deu origem a sentimentos de otimismo, abrindo positivamente o homem para o novo e incentivando seu espírito de pesquisa. O desenvolvimento de uma nova atitude perante a vida deixava para trás a espiritualidade excessiva do gótico e via o mundo material com suas belezas naturais e culturais como um local a ser desfrutado, com ênfase na experiência individual e nas possibilidades latentes do homem. Além disso, os experimentos democráticos italianos, o crescente prestígio do artista como um erudito e não como um simples artesão, e um novo conceito de educação que valorizava os talentos individuais de cada um e buscava desenvolver o homem num ser completo e integrado, com a plena expressão de suas faculdades espirituais, morais e físicas, nutriam sentimentos novos de liberdade social e individual.” (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Renascimento). 

Nesse período, as representações da figura humana adquiriram solidez, majestade e poder, refletindo o sentimento de autoconfiança de uma sociedade que se tornava rica e complexa, com vários níveis sociais, de variada educação e referenciais, dela participando ativamente e formando um painel multifacetado de tendências e influências. Assim, a partir de Giotto, o homem ganha um aspecto nitidamente enobrecido. Com Da Vinci, a técnica do óleo se refina e penetra no terreno do sugestivo, e a arte se casa com a ciência. Com Rafael, se revela a doçura, a grandeza e a perfeira harmonia e, com Michelangelo, a figura humana é levada a uma nova dimensão, a do sobre-humano. 

Dessa maneira, e a partir do estudo da obra, da vida e de detalhes históricos pouco ou muito conhecidos a respeito do mestre italiano, Dan Brown obteve informações que serviram para dar verossimilhança e fluidez à sua trama: Da Vinci escrevia seus manuscritos da direita para a esquerda, exatamente como Jacques Saunière o fez no chão do Louvre. Tanto Saunière como Da Vinci assim procederam para evitar que suas idéias fossem decifradas, porém Leonardo temia represálias da Igreja. Outra informação utilizada na literatura e na película foi o fato de que, para transmitir mensagens às gerações futuras, Leonardo deixava mensagens cifradas em suas pinturas, como em a “Virgem das rochas” e a “Mona Lisa”, citadas no filme. Gostava, ainda, de distorcer coisas, como em um quebra-cabeças, bem como de formar anagramas com as palavras. O curador deixou um anagrama escrito no quadro da “Mona Lisa”, para que Langdon e a criptógrafa, Sophie Neveu, sua neta, o decifrassem. 

O primeiro anagrama decifrado por Langdon e Sophie os leva ao quadro da “Mona Lisa”, de Da Vinci, onde encontrarão mais pistas que os ajudarão a desvendar o grande mistério da história. 

“La Gioconda”, como também é conhecido, é um dos mais, senão o mais conhecido quadro de Leonardo Da Vinci. Segundo historiadores, o pintor começou o retrato em 1503, terminando-o três ou quatro anos mais tarde.

Óleo sobre tela de a "Mona Lisa", de Da Vinci
            Mona Lisa - Leonardo da Vinci, 1503-1507- óleo sobre madeira de álamo -77 × 53 cm - Museu do Louvre. 

A modelo em questão é motivo de discussões por todo o mundo, até hoje. Porém, a versão mais aceita é a que diz se tratar de Lisa Del Giocondo, esposa de um rico comerciante florentino, Francesco Del Giocondo. Acredita-se que eram vizinhos de Da Vinci em Florença. Diz-se, também, que Lisa tinha sido mãe recentemente, e o retrato foi feito um pouco em comemoração à recente maternidade. O quadro apresenta uma mulher com uma expressão introspectiva e um pouco tímida. O seu sorriso restrito é muito sedutor, mesmo que um tanto conservador. Seu corpo representa o padrão de beleza da mulher na época de Leonardo. 

Foi nessa obra que o pintor melhor concebeu o sfumato, técnica que gera tons perfeitos na criação de luz e sombra em um desenho ou pintura. Observe o detalhe da tela: 

Detalhe da face de a "Mona Lisa", de Da Vinci
               Detalhe da face, mostrando o efeito sutil do sfumato, particularmente nas sombras em torno dos olhos.

“Leonardo da Vinci contribuiu para a arte do sfumato, mas não foi o seu criador. Percebeu que o verniz de madeira reagia com a tinta a óleo. Após uma primeira mão de tinta, ainda com o quadro apresentando marcas de pincel, passava uma mão de verniz de madeira sobre a pintura, fazendo com que este borrasse a tinta a óleo, gerando um gradiente perfeito e mascarando a sensação de pincelada. O processo de passar o verniz por sobre a pintura era repetido várias vezes durante o processo de criação da pintura”. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sfumato).

Assim, a “Mona Lisa” determinou um padrão para a técnica de retratos, no qual apresenta o modelo visto apenas acima do busto, com uma paisagem distante visível em plano de fundo. Para esse retrato, Leonardo usou uma composição em pirâmide, onde a modelo surge no centro com uma expressão calma e serena. A linha que sai da boca e contorna a face, acima dos olhos, é um círculo perfeito, fruto dos incansáveis estudos da anatomia humana feitos pelo pintor. A mãos dobradas encontram-se no centro da base piramidal, refletindo a mesma luz que ilumina o seu regaço, pescoço e face. Essa luminosidade estudada dá às superfícies vivas uma geometria subjacente de esferas e círculos, que acentua o arco de seu sorriso famoso.

Em frente a essa obra, o casal Langdon e Neveu descobre outro anagrama, agora remetendo à “Madona das rochas”, também de Da Vinci, onde encontram uma chave, em forma de flor-de-lis, referência ao Priorado de Sião e que dá continuidade, como mais uma pista, à busca das personagens.

“De acordo com as divulgações de Pierre Plantard, recolhidas pelos autores anglo-saxónicos Henry Lincoln, Michael Baigent e Richard Leigh e publicadas na obra “Holy Blood, Holy Grail” [1], o Priorado de Sião teria sido uma sociedade secreta fundada em Jerusalém, em 1099, que jurara proteger um segredo acerca do Santo Graal, entendido por estes autores como uma hipotética descendência humana de Jesus Cristo”.(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Priorado_de_Si%C3%A3o).

A obra “Madona das rochas” é um óleo sobre tela encomendado, a Da Vinci, pela Confraria da Imaculada Conceição, por volta de 1483. O convento precisava da tela para ser a peça central de um tríptico em um altar da Igreja de São Francisco, em Milão. Foram-lhe forncecidas dimensões específicas, bem como o tema para a pintura: a Virgem Maria, São João Batista, ainda bebê, o anjo Uriel e o Menino Jesus, abrigados em uma caverna. Da Vinci pintou o que lhe foi pedido, porém colocou na tela alguns detalhes que pareciam, aos olhos das freiras, perturbadores, não sendo aceito pela Confraria, motivo que deu origem a uma segunda versão do quadro “A virgem das rochas”, no qual as personagens aparecem em posições mais ortodoxas, “(...) as características renascentistas que esta obra apresenta são a composição em pirâmide, o naturalismo, a proporção, e o estudo cuidadoso da anatomia do corpo humano”. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Madona_das_rochas). 

                                 Óleo sobre madeira, de Da Vinci, "Madona das rochas"                     Óleo sobre painel, "A virgem das rochas", de Leonardo Da Vinci                                     1a. versão - Madona das Rochas - Leonardo Da Vinci, 1483-1486 - Óleo sobre madeira - 199cm × 122cm - Museu do Louvre (Paris). 2a. versão - A Virgem das Rochas - Leonardo da Vinci, 1495-1508 - Óleo sobre painel - 189,5 × 120 cm - National Gallery, Londres, Inglaterra.

A “Madona das rochas” (1a. versão) é, indiscutivelmente, um quadro carregado de significações herméticas; embora não-simbólicas, porque o símbolo sempre manifesta algo, e Leonardo tinha a intenção de que os significados permanecessem escuros, na sombra, e que só as formas fossem visíveis. A caverna era um motivo que o fascinava, como se deduz em várias passagens de seus escritos. Fascinava-lhe do ponto de vista científico ou geológico mas, principalmente, como interior da terra, como natureza subterrânea ou sub-natureza.
Há estudos que dizem, ainda, que nessa 1a. versão o pintor teria deixado oculta a face de seres demoníacos (tanto do lado direito, da tela, apresentando uma boca abissal, talvez um símbolo fálico, como do lado esquerdo, no qual a fenda parece representar olhos).

“Possivelmente os gelos longínquos (na tela) aludem ao remoto passado do mundo, a uma extinta Pré-História que termina com o nascimento de Cristo, quando a natureza e a história se abrem e iluminam e o mistério inescrutável do real se converte em um segredo que a investigação humana pode descobrir. As paredes e as abóbadas da cova se abrem, e pelas fendas penetra a luz, dando fim à era da vida subterrânea, iniciando, enfim, a era da experiência”. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Madona_das_Rochas).

De posse da chave em formato de flor-de-lis, e com a polícia no seu encalço, o casal sai do Louvre e vai para um dos parques da cidade, a fim de refeltir sobre o que fazer com a peça encontrada e como esta se encaixaria na situação que se apresentava. Logo percebem que esta contém um código inscrito, o que os leva ao Banco de Zurique, onde são descobertos pela polícia e fogem, chegando ao castelo de um velho amigo de Langdon, que os esconde.
Sir Leigh Teabing, depois de ser posto a par da situação, e por ser fanático pela história do Santo Graal, dá uma aula sobre o mito a Sophie, que não entende como o “cálice”, que deveria ser o Graal, pode ser interpretado como sendo a figura de uma mulher. Para ilustrar sua explicação, Leigh mostra a ela “A última ceia”, de Da Vinci, onde a figura ao lado de Jesus é vista e entendida como sendo a de Maria Madalena, sua esposa.

                                                      Tela mista "A última ceia", de Da Vinci                                                                A Última Ceia - Leonardo da Vinci, 1495-1497 -Mista com predominância de têmpera e óleo sobre duas camadas de preparação de gesso aplicadas sobre reboco (estuque) - 460 × 880 cm - Refeitório de Santa Maria delle Grazie (Milão).

A obra em questão é um mural, presente de Da Vinci ao Duque Ludovico Sforza, pintado na parede do refeitório do Convento Santa Maria delle Grazie, em Milão, local que o duque mandou construir, entre outras coisas, para sepultar os seus familiares. 

Para a confecção dessa obra, Leonardo usou material característico dos afrescos, como pigmentos misturados com gema de ovo ao reboco úmido, como também óleo ou verniz. Testou uma nova técnica à solução das tintas com predominância da têmpera, porém não foi muito feliz, pois a nova técnica não se ajustou às condições climáticas da região e, antes mesmo de acabar, o painel já mostrava pontos de deteriorização. 

Essa cena, baseada em João 13:21, descreve uma reunião de Jesus com os doze apóstolos, na qual Cristo teria dito por qual deles seria traído. Porém, uma outra interpretação é oferecida por Brown, e transposta para o filme. Afirma que o discípulo à direita de Jesus Cristo, João, seria, na verdade, Maria Madalena. Suas feições femininas e traços delicados reforçam essa idéia. 

A suposta simetria nas roupas de Jesus e de Maria é mais um indício. Os dois (Jesus e Maria Madalena) parecem formar um casal. Segundo o autor,

“(...) as cores das roupas de Maria e Jesus são opostas: Maria (São João Evangelista) usa um vestido azul e uma manta vermelha e Jesus uma veste vermelha e uma manta azul, o que, segundo alguns, pode ter semelhanças com a representação oriental do Yin-Yang, o equilíbrio entre o masculino e feminino. Ao lado de Maria Madalena, Pedro estaria curvado de uma maneira ameaçadora, e a mão em direção ao pescoço dela seria um gesto negativo ou de morte, outra teoria seria que Pedro, através de um gesto de amizade, pedir a São João Evangelista para que perguntasse a Cristo quem o trairia. Outra interpretação é que simplesmente se trata da introdução do Santíssimo Sacramento notado pela presença do pão e do vinho nas mãos de Jesus. Esta suposta simetria pode ser desmentida por ser contrária à proposta formal de Leonardo. Por sua vez, similar à já empregada em 'A adoração dos reis magos', onde divide a cena em dois volumes simétricos. É exatamente o que se dá aqui, notando-se que o centro absoluto da obra é Cristo, e os outros personagens formam um cenário simétrico”'. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/A_%C3%9Altima_Ceia_(Leonardo_da_Vinci)).

Com essas afirmações, Dan Brown pretende deixar, no ar, algumas dúvidas, sugerindo que Pedro sentia ciúmes pelo fato de Jesus confiar a Maria Madalena mais e maiores responsabilidade que aos seus apóstolos,

“Nota-se, inclusive (na imagem ampliada) que, ao centro, há uma mão segurando um punhal, que supostamente pertence a Pedro (Pedro está com o punhal na mão direita, estendida para trás, como se quisesse escondê-la), embora alguns especialistas digam que este punhal está colocado, na obra, de maneira aleatória, não pertencendo a nenhum dos apóstolos. Segundo estudos, tal punhal pertenceria a São Simão, o zelota, que era partidário do levante armado para libertar a Judéia do domínio romano”.(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/A_%C3%9Altima_Ceia_(Leonardo_da_Vinci)).

Argumenta, ainda, que a imagem da suposta Maria Madalena, se recortada em um programa de edição de imagens, e colocada à direita de Jesus, denota uma precisão incontestável na pose que se forma. Tanto em graus, quanto na sobreposição, vemos com nitidez a imagem de Maria Madalena com a cabeça apoiada sobre o ombro de Jesus, como um casal. Além disso, supõe-se que o espaço entre Maria Madalena e Jesus, na figura original, teria sido pintado propositalmente para insinuar um símbolo que se parece com uma letra "V", ou seja, o símbolo do sagrado feminino (também chamado de Cálice). 

Em resumo, “O código da Vinci” nos leva a questionar várias coisas, entre elas dados históricos e possíveis leituras de obras de Da Vinci, porém, o objetivo tanto do livro, quanto da história contada em linguagem cinematográfica, não é esse, mas sugerir, a partir da inserção ficcional de fatos históricos, obras e personagens, que uma verdade pode ser questionada e se tornar outra “verdade”, segundo os critérios utilizados. 

Apresentar, também, ao grande público, um pouco de História da Arte, seus mestres e obras, as diversas leituras possíveis a respeito dos símbolos espalhados pelo mundo, seus usos e formas e, principalmente, e a melhor de todas, proporcionar esse agradável e enriquecedor momento de entretenimento que somente o cinema têm a possibilidade de nos dar, entretanto fazer com que os espectadores saiam da sala de projeção diferentes do modo como entraram, ou seja, transformados, em algum nível, e de alguma maneira.


Referências 

NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema em sala de aula. São Paulo : Contexto, 2001.
OSTROWER, Fayga. “A construção do olhar”. In: NOVAES, Adauto, O olhar, São Paulo : Companhia das letras, 1988, p. 175.
GOMBRICH, E. H. The history of art. São Paulo : Zahar Editores, 1972.
MACIEL, Manuel Justino Pinheiro. Vitrúvio, Tartado de Arquitetura. Trad. De M. Justino Maciel. Portugal : IST Press, 2006.
SASSON, Donald. Mona Lisa – A história da pintura mais famosa do mundo. Rio de Janeiro : Record, 2004.
WIKIPÉDIA, a Enciclopédia livre. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal. Acessado em 25 nov. 2008.
Refutação gráfica da teoria de Dan Brown. Disponível em: http://www.leonardo3.net/leonardo/home-brown.htm. Acessado em 25 nov. 2008.
A Mona Lisa exposta. Disponível em: http://www.hepguru.com/monalisa/introduction.html. Acessado em 25 nov. 2008.
Desautorizando “O código Da Vinci”. http://www.chamada.com.br/mensagens/codigo_da_vinci_2.html. Acessado em 25 nov. 2008.

Referências das imagens 

WIKIPÉDIA, a Enciclopédia livre. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal. Acessado em 25 nov. 2008.
1) Possível Auto-retrato de Da Vinci. http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_da_Vinci
2) Museu do Louvre. The Louvre Museum Official Website – Paintings. http://www.louvre.fr/anglais/collec/peint/inv0777/peint–f.htm
3) O Homem Vitruviano, de Da Vinci. http://pt.wikipedia.org/wiki/Homem_Vitruviano_(desenho_de_Leonardo_da_Vinci)
4) Mona Lisa. http://pt.wikipedia.org/wiki/Mona_Lisa
5) Detalhe da Mona Lisa. http://pt.wikipedia.org/wiki/Mona_Lisa
6) Madona das rochas e Virgem das rochas. http://pt.wikipedia.org/wiki/Madona_das_rochas
7) A última ceia. http://pt.wikipedia.org/wiki/A_%C3%9Altima_Ceia_(Leonardo_da_Vinci)



Marcia Regina Galvan Campos                      
Assessora técnico-pegagógica do Portal Dia-a-Dia Educação 
Profª de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira          



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