Disciplina - Cinema

Profissão risco

Cena do filme "profissão de risco", de Ted Demme
Há filmes que não nos deixam sair incólumes pelas distintas facetas que apresentam no bojo do enredo. Profissão de Risco, (Blow), baseado no livro de Bruce Porter, “Blow: how a small town boy made $ 100 milion with the Medellín cocaine and lost it all”, não foge a este tipo de regra.

A abordagem da película é sobre a vida de George Jung ( Johnny Depp), que vive uma infância e adolescência confusa pelas desavenças conjugais dos pais até entrar para o mundo do tráfico de drogas. O diretor passa uma visão “romântica” e sensível do protagonista, tal que, muitas vezes, o espectador é impelido a ter compaixão dos atos de George, vendo-o como vítima de uma situação, ou algum gênio incompreendido.

Este drama mostra o cenário do auge da cocaína nos EUA, se este país se legitimou como grande potência do capitalismo, após a Segunda Guerra, por outro lado problemas sociais de distintas naturezas emergiram à altura, pois os anos 60,70 e 80 deflagraram o preço que a sociedade americana pagou por tal ato do Tio Sam.

George repudia os moldes familiares que primam pelas discussões e a jornada árdua do pai, de 12 a 14 horas por dia de trabalho, em prol das necessidades do lar e das reclamações e “luxúrias” da mãe. Dessa forma, resolve partir para a Califórnia e começa a comercializar maconha na praia, obtendo lucros acima do que esperava. Tal facilidade, o motiva a comprar o produto diretamente na fonte: México, até ser preso. O fato é que Jung entra na cadeia com Mestrado em maconha e sai com Doutorado em cocaína, segundo as palavras da própria personagem, pois conheceu Diego Delgado (Jordi Molla) um colombiano ligado a Pablo Escobar (Cliff Curtis), chefe do maior cartel de cocaína da Colômbia.

Neste período começa uma das maiores dores de cabeça dos EUA no campo do narcotráfico, pois após a saída da prisão, George estabelece relações comerciais com Pablo Escobar que tem grandes pretensões de vendas naquele país. George faz um verdadeiro “derrame” de cocaína por várias regiões, despertando novamente a atenção da polícia.

O universo do tráfico é uma dicotomia de prazeres materiais e traição, George Jung vai percebendo rapidamente esta relação estreita em que está inserido e, como tal, é traído por um golpe da esposa Mirthes
(Penélope Cruz) e acaba novamente na prisão.
A colombiana Mirthes, jovem e bonita, é movida por diversão, prazeres e desejos e não colabora para que o marido abandone a atividade criminosa, apesar da fortuna acumulada.

Assim, o destino parece agir de forma implacável com Jung e, aos poucos, ele vai perdendo o poder, o dinheiro, os amigos, a presença dos pais, da filha e da mulher.  Ao sair da cadeia e perceber que perdeu tudo, tenta planejar mais um golpe para garantir o futuro e viver com a pessoa que ele mais ama depois do pai, a filha.

Porém, tudo parece conspirar contra os intentos puritanos de Jung. Novamente ele cai numa armadilha, só que desta vez armada pela polícia e é sentenciado com pena máxima. Até então George tinha planos para viver com a filha uma vida tranqüila, longe das loucuras do passado.

A história é real. Nos interativos do DVD há uma entrevista na cadeia com George Jung. Ele relata sua simpatia e respeito pela forma como foi transposta a sua particularidade para o cinema. Quando indagado sobre o ódio de muitas famílias americanas por ter espalhado a cocaína nos EUA, George faz uma profunda reflexão sobre a questão, afirmando que o problema essencial não está nas drogas, pois elas sempre existiram. O grande problema está na família que não dá a devida atenção e amor aos filhos, além do descaso do Estado com a Educação.

Se focarmos a história de George Jung a partir de um cunho moralista, certamente teremos respostas limitadas diante das questões empíricas do filme. Entretanto, se fizermos uma análise de conjuntura, desprovida de cânones morais, poderemos detectar questões mais amplas, com as quais convivemos cotidianamente.

Profissão de Risco deixa qualquer pessoa numa posição desconfortável, haja vista que a droga está em todos os escalões da sociedade e não há mecanismos efetivos para resolver essa questão. Existem vários Georges, de todas as idades, espalhados por ai, com histórias parecidas, senão idênticas.

Rubens Martins Neto
Assessor técnico-pedagógico do Portal Dia-a-Dia Educação
Profº de Língua Portuguesa


Recomendar esta página via e-mail: