Disciplina - Cinema

Carlos Rocha

Foto do professor da UFPR Carlos Rocha
Carlos Rocha é professor de telejornalismo, da área de Comunicação Social da UFPR e professor da disciplina de Cinema. Coordenador do projeto de pesquisa: infovia para permuta de programas nas Rádios e TVs das universidades públicas – RedeIFES. Este projeto está sendo implantado, em 2008, em todas as Universidades Federais, pela Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior).
 
 
1)  Pela leitura de seu currículo, percebemos que você trabalha com várias mídias: cinema, TV, rádio, internet, impresso. Articulando tantas modalidades de comunicação, como vê a integração de mídias para o uso pedagógico?
 
R: Cada uma das mídias de comunicação pode ser utilizada na forma de apoio pedagógico, respeitando-se as suas particularidades.
 
O jornal impresso, por exemplo, sempre terá vez nessas funções, mas acredito que a convergência de mídias possibilita um potencial enorme, tanto para o acesso à informação como para fins didáticos.
 
À medida que a tecnologia se desenvolve, com menos aparelhos, poderemos ter acesso a mais formas de conteúdo. O meu projeto de pesquisa justamente busca integrar as rádios e TVs de todas as universidades públicas brasileiras (Federais e Estaduais), em uma rede de permuta para os programas produzidos nestas instituições.
 
Esse projeto vai, na primeira fase, interligar todas as Universidades Federais e, na seqüência, expandir esta conectividade para as Universidades Estaduais, em todo o Brasil, inclusive as paranaenses.
 
Dessa forma, não só as diversas programações de todas as universidades poderão ser utilizadas para montarmos uma grade de programação, a ser exibida, como também este material poderá ser utilizado em salas de aula, como apoio e complemento à formação.
 
2)  Como surgiu seu interesse pelo cinema?
 
R: Sempre busquei estar muito próximo ao cinema. Meu primeiro trabalho remunerado foi justamente em uma videolocadora. Depois, estudei fotografia para encontrar maior identificação com o cinema, pois, afinal, cinema é composto por “24 fotografias por segundo”.
 
Profissionalizei-me repórter fotográfico e depois me dediquei ao telejornalismo e ao documentarismo.
 
 
3)  O que se tem percebido, nos últimos tempos, é que a educação está carente de humanização, socialização, reflexão. Você concorda com isso?
 
R: Em parte. Acredito que o processo de educação deve sim estar ligado a um compromisso social e humano muito forte. Também acredito que a reflexão seja um dos objetivos do processo de educação. Além disso, a educação, no meu entender, não é um mero apanhado de conhecimentos de línguas, matemática ou de outras ciências, mas uma síntese disso, junto ao ensino do respeito e de cultura de um modo mais amplo. Procuro sempre me relacionar com meus alunos de forma a estabelecer um laço de amizade e troca, pois nós também podemos (e devemos) aprender com eles no dia-a-dia.
 
É justamente com este contato que posso avaliar como poderei abordar determinadas questões que julgo essenciais.
 
 
Foto do professor da UFPR Carlos Rocha4)  A partir dessa constatação, na sua opinião, o cinema pode auxiliar a modificar essa situação? Como?
 
R: O cinema é algo mágico. Uma sala escura, uma tela grande, um som envolvente... isso faz com que o público entre mais rapidamente na trama que está sendo exibida, o que não acontece tão rapidamente em uma tela de televisão, que normalmente compete com outros eletrodomésticos, bem como com conversas paralelas.
 
O cinema pode ser instrumento para diversas ações. Com ele podemos ensinar arte, história, política, literatura, teatro e até mesmo buscar relações cotidianas, buscar a reflexão, inclusive de temas atuais. O cinema pode ser visto como um grande aliado na sala de aula, uma vez que determinados temas podem provocar, nos alunos, debates apaixonados.
 
 
5)  De que maneira os professores dos Ensinos Fundamental e Médio podem ensinar os conteúdos disciplinares por meio do cinema, pedagogicamente?
 
R: O primeiro passo é estabelecer os objetivos pedagógicos do período letivo. Depois de ordenar os conteúdos, em “módulos”, devemos buscar os filmes que retratem diretamente a questão abordada. Em uma segunda análise, um filtro para aqueles filmes que, apesar de não abordarem o tema específico, podem ser utilizados de forma a suscitar o debate, ou a instigar a curiosidade sobre o tema que deve ser tratado no referido módulo pedagógico.
 
 
6)  A partir da relação que você estabeleceu com o cinema, de sua vivência e experiências com a sétima arte, como trabalha essa mídia com seus alunos da Graduação?
 
R: Desenvolvo essa questão com muita tranqüilidade. Sempre busco trabalhar com algum filme temático, ou que aborde um diretor específico. No caso de trabalhar com um diretor específico, podem ser abordadas diversas questões, ao se trabalhar com o conjunto das obras. Procuro ordenar uma seqüência de filmes obedecendo à ordem cronológica em que foram feitos, mas se o tema abordado exigir, dou preferência ao conteúdo.
 
Ainda nesse ponto, busco, sempre que possível, puxar vários assuntos na exibição de um filme. Depois vou vendo qual dos temas tem maior aceitação e o exploro, com aqueles alunos que desejarem – pois na UFPR a minha disciplina de cinema é optativa e aberta a todos os cursos e departamentos, inclusive para pessoas externas à instituição.
 
Acredito que cada um dos professores, com o conhecimento que detem em sua disciplina, somado a bons filmes, pode gerar ótimos resultados. O conceito de “bom filme” não se restringe aqui ao filme moderno, ou ligado à premiação do Oscar, mas a filmes que podem remeter, inclusive, à época do cinema mudo. Filmes de Chaplin, Eisenstein ou de Fritz Lang, por exemplo, podem ser utilizados ainda hoje, com o intuito de abordar temas atuais.
 
Por meio do cinema podemos mergulhar em diferentes culturas, de distantes países, ou mesmo nas distintas culturas existentes na miscigenação brasileira. Um bom exemplo disso, é “O pagador de promessas”, o filme brasileiro mais premiado da história, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 1962, e que ainda hoje é um ótimo exemplo para abordar as questões do sincretismo religioso.
 
7)  Em 2003, o Governo do Estado do Paraná criou um Portal Educacional, denominado Dia-a-Dia Educação (www.diaadiaeducacao.pr.gov.br). Nesse Portal, o professor da rede estadual tem acesso a muitas informações e conteúdos disciplinares para uso em sala de aula, inclusive uma página de Filmes, que disponibiliza sinopses, resenhas, artigos, sites, trailers (www.filmes.seed.pr.gov.br), auxiliando no trabalho pedagógico dos educadores a partir de sugestões temáticas. Como você vê a criação de um instrumento educacional como esse?
 
R: Acredito que essa ferramenta tecnológica vai se somar a muitas outras para que possamos compartilhar experimentos e ações. Acredito, ainda, que a metodologia de oficinas, com dedicação integral, seja a melhor maneira de se trabalhar com o público de professores, pois podem, em pouco tempo, ter um rendimento maior, principalmente com a troca de experiências em relação ao processo individual e solitário.
 
Ministro oficinas de produção de vídeo desde 2000, no Festival de Inverno da UFPR. Nessas ocasiões, tivemos professores e alunos dos mais diversos graus. Pude observar que nessas condições, de uma semana de imersão, o rendimento chegava muito próximo ao de um semestre letivo de 30 a 40 horas.
 
Outra ferramenta, que poderá ser muito utilizada, é o sistema da RedeIFES – Rede das Instituições Federais de Ensino Superior. Acredito que no final do segundo semestre de 2008 poderemos estabelecer a parceria com o Governo do Estado do Paraná. Dessa maneira, os professores terão acesso ao conteúdo de muitos trabalhos exibidos em rádios e TVs universitárias públicas de todo país. Esse sistema ainda dará acesso a trabalhos de conclusão de curso, em áudio e vídeo, que podem ser exibidos em sala, sem preocupação com o custo de exibição, pois os direitos autorais estarão abertos para uso dos professores em sala, nas universidades públicas, nos ensinos médio e fundamental.
 
 
8)  A CINETV-PR, Escola Sul Americana de Cinema e Vídeo, em parceria com a FAP, Faculdade de Artes do Paraná, disponibiliza aos interessados na área de audiovisual, desde 2005, mais uma opção para estudar Cinema e Vídeo. Em outubro deste ano, a CINETV realizou, com grande sucesso, o 2º Festival do Paraná de Cinema Brasileiro e Latino. Você acha que o Paraná pode vir a se tornar um pólo de cinema, independente, assim como o Rio Grande do Sul?
 
Da esquerda para a direita: Márcia Galvan (SEED), Carlos Rocha (UFPR) e Juratan Cruz (SEED)R: Desde 1999 coordeno o projeto dos alunos do curso de Comunicação da UFPR, o Festival de Vídeo Universitário PUTZ. No início, este evento esteve restrito ao público interno da UFPR, mas após 2003 foi ampliado para um festival nacional de vídeos universitários. Desde o primeiro ano, quando abrimos as inscrições para outras instituições, inclusive de outros Estados, o interesse se mostrou surpreendente, pois havia pouco espaço para a exibição de vídeos nessa categoria. A idéia foi estabelecer uma metodologia e critérios de seleção, não que agradassem ao público, mas que tratassem os vídeos de forma profissional. Somado a isso, os alunos ainda ampliaram o conceito com palestras de diversos profissionais da área. Falo disso para exemplificar que este é um terreno muito fértil, principalmente agora com a tecnologia digital e o barateamento dos equipamentos de produção e pós-produção.
 
A produção curitibana e paranaense já é respeitada em muitos dos festivais nacionais. A CINETV foi um grande passo para que se estabeleça uma cultura cinematográfica perene. A própria UFPR já pensa, desde 2004, na implantação de um curso, na escola técnica, para formação de técnicos em audiovisual. Este projeto é uma proposta inovadora (profissionalizante, modular e seqüencial) e está sendo revista constantemente. Assim, espero que em breve possamos implantar a proposta também na UFPR. Muitos alunos de Comunicação Social escolhem este curso na ausência de um curso superior, ou mesmo técnico, em cinema ou vídeo.
 
Finalizando, a contribuição que o cinema pode dar à educação, quando usado de forma planejada, é muito satisfatória. O cinema tem condições de servir como um instrumento “lúdico”, pois pode remeter a uma experiência virtual dos acontecimentos. Os filmes nunca substituirão os professores em sala, mas podem ser ótimos aliados.

Por: Márcia Regina Galvan Campos e Juratan Sebaje da Cruz em Fev/2008.

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