Disciplina - Cinema

Tom Lisboa

Iamgem do fotográfo Tom Lisboa
Tom Lisboa é mestre em Comunicação e Linguagens, pela Universidade Tuiuti do Paraná, e Bacharel em Informática, pela Universidade Federal do Paraná. Sua produção artística começa em 1996, com pintura, mas, a partir de 2000, passa a desenvolver projetos pessoais apenas na área de fotografia. Paralelamente, ministra aulas de formação de platéia crítica em cinema.
 

1)       Observando seu currículo, percebemos que você tem graduação em Informática e mestrado em Comunicação e Linguagens. O que o levou a se deslocar de sua formação inicial e optar por trabalhar com a linguagem do audiovisual?

Na verdade não houve uma migração e sim um acúmulo de referências. Trabalho com audiovisual, intervenções urbanas e fotografia, mas a informática ainda se faz muito presente. O portal sinTOMnizado, que criei em 2000, é uma prova do paralelismo destas atividades. Da mesma maneira, quando desenvolvi as "polaroides (in)visíveis", que são fotografias feitas sem câmera, este trabalho trouxe embutida uma crítica muito grande a respeito da importância da tecnologia nos dias de hoje.
 
2)       Algumas pessoas se referem a você como um "profissional multimídia", pois seu trabalho perpassa muitas linguagens artísticas: cinema, fotografia, literatura, pintura... Poderia nos falar um pouco sobre esse "passeio" pelas múltiplas linguagens?

O cineasta Alain Resnais disse uma vez: "nós somos uma memória que age". Minha formação é bem diversificada. Ficou faltando dizer que fiz Especialização em Marketing e um curso incompleto de Turismo. Como ser humano, eu tenho curiosidade em estar sempre aprendendo. Além de cinema, fotografia, literatura, pintura, já fiz teatro, aula de canto, competi em duathlon, enfim, eu coloco em prática a soma de todas estas experiências. O que, para mim, é muito natural, quase óbvio.
 
3)       Você define o Curso de Cultura Cinematográfica como um projeto que tem por objetivo "incentivar a criação de novos hábitos cinematográficos, bem como desenvolver uma análise crítica dos filmes exibidos", nos fazendo perceber a arte como uma forma positiva de aprender mais a respeito da cultura do nosso país e de outros países e, muitas vezes, muitas coisas a respeito de nós mesmos. Que razões o levam a pensar o cinema como possibilidade educacional?

Uma das grandes virtudes do cinema menos comercial é trabalhar com a experimentação e a ousadia. Isto significa a existência de um diretor que não está conformado com as fórmulas e os padrões estabelecidos. Assistir a um filme assim é um aprendizado, uma maneira de desenvolvermos nossa criatividade e aprendermos novamente a fazer perguntas. No cinema mais industrializado recebemos apenas um "pacote de respostas", sem espaço para reflexão. Educar, para mim, é ensinar o aluno a refletir, duvidar, questionar as coisas.
 
4)       Continuando nesse tema, qual sua expectativa com o ingresso de novos profissionais da área de cinema e TV no mercado paranaense? O Paraná é um bom celeiro de novos talentos? Possibilita o desenvolvimento de bons projetos?

Todo processo educacional gera transformações a médio e longo prazo. Minha preocupação é que a formação destes novos profissionais não fique restrita à atuação técnica, deixando de lado a artística. Existem excelentes técnicos trabalhando na televisão e no cinema, mas que são incapazes de desenvolver projetos pessoais de qualidade. É o que costumo dizer: fazer com arte, não significa fazer uma obra de arte.

 5)       Neste ano de 2007, o Governo do Estado pretende instalar, em todas as salas de aula, uma televisão de 29 polegadas com entrada USB, para o uso do pen-drive, o qual comportará imagens, sons e vídeos. Como professor da área de cinema, o que você diria ao educador que tem interesse em trabalhar as possibilidades do cinema, com seus alunos, porém não sabe como fazê-lo pedagogicamente?

Atualmente, minha grande preocupação não está relacionada a equipamentos, mas a conteúdo. Principalmente porque vivemos em uma época cada vez mais motivadas por escolhas. O mesmo computador com que acessa, via internet, sites pornográficos é o mesmo que visita os melhores museus e bibliotecas virtuais. O diferencial está em quem opera esta ferramenta. Isto quer dizer que comprar um equipamento não soluciona problema algum. É preciso investir duas, três vezes mais em formação de educadores e, principalmente, na qualidade das imagens, sons e vídeos a serem veiculados nas escolas.

6) O que você acha da iniciativa do Estado do Paraná, de auxiliar o professor no seu dia-a-dia, colocando à sua disposição um Portal Educacional que disponibiliza conteúdos, materiais e informações referentes à sua disciplina e outros assuntos de seu interesse?

Disponibilizar um portal voltado para a educação é uma iniciativa importante, mas volto a insistir que é preciso cuidar do conteúdo e criar mecanismos sustentáveis de atualização e desenvolvimento deste site. Projetos assim começam a dar resultados em médio e longo prazo. E, ter perspectiva de continuidade, mesmo após o término no Governo, é fundamental.
 
7)       Além da continuação do Curso de Cultura Cinematográfica, quais são seus próximos projetos?

Além do Cineclube Contramão, do Curso de Cultura Cinematográfica e de meus projetos de arte, estou inaugurando uma empresa voltada ao treinamento para o tempo livre, chamada Drops Cultural. Baseada nas idéias de filósofos e escritores como Domenico De Masi, a Drops Cultural desenvolveu um método que representa uma solução viável para pergunta ainda não respondida por estes autores: "como treinar as pessoas para o tempo livre?".

Por: Márcia Regina Galvan Campos e Juratan Sebaje da Cruz em Nov/2008.

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