Disciplina - Cinema

Laboratorio de interpretacao

    
IMAGENS                                             VÍDEO

Curso de Cinema e Vídeo
 
Faculdade de Artes do Paraná
 
Curitiba - PR
 
Orientadora: Profª Sheylli Caleff

Relato da experiência (desenvolvimento do trabalho)

Desde que comecei a trabalhar no curso de cinema da CINETVPR, o Laboratório de Interpretação tornou-se uma das minhas paixões. Pude observar o crescimento dos alunos, o desenvolvimento da comunicação com seus próprios sentimentos e, conseqüentemente, com os sentimentos alheios. Tudo através das técnicas de interpretação.

Foi uma jornada coletiva a que a turma se propôs, um passeio pela alma humana. Um passeio amoroso e trabalhoso porque eles estavam dispostos a desvendar a arte de interpretar utilizando-se como instrumento. Eles são seus instrumentos de trabalho: atuam, dirigem, choram, gritam, gargalham, se abraçam, desenvolvem um respeito pelo corpo do outro, pelo trabalho do outro e pela presença enriquecedora dos colegas. Começaram a pluralizar seu foco, a olhar o ser humano e a se apaixonar por suas qualidades e defeitos. Pois seus filmes terão vilões e bandidos tão adoráveis quanto os mocinhos.

É nisso que se concentra a minha disciplina na CINETVPR, ou pelo menos, como eu a vejo. Ela é um instrumento para a comunicação com a interpretação, passando por diretores, atores, expectativas, câmeras e sentimentos. Ela é um instrumento para a realização e a reflexão de uma obra artística, um instrumento para as idéias, os conceitos, as inquietações mais íntimas ganharem forma artística.

Tivemos um caso muito especial neste semestre. Um dos alunos escolheu, para dirigir, a cena de um filme de Pelechian, "Life" (documental), que mostra, em close, uma mulher em trabalho de parto. Ele hesitou em escolher a cena porque lhe parecia difícil de filmar, de dirigir. Mas ela lhe falava tanto, ela tinha tanta magia para ele que o motivei a continuar e ele fez um trabalho incrível. Decidiu, para complicar mais ainda, que um homem faria a cena e um de seus colegas aceitou o desafio. Eu tive o privilegio de estar na câmera. O aluno-ator deitou-se sobre duas mesas encostadas, com as pernas flexionadas e abertas, na posição de parir. O aluno-diretor avisou-me que não daria a "ação" e que eu poderia filmar quando sentisse o momento propício.

Com uma voz firme e suave, ele direcionava o ator "agora você terá a primeira contração" dizia ele, pressionando a barriga para que o ator tivesse o tempo exato daquele acontecimento. Ele dirigia os movimentos "sua respiração está mais rápida, mais profunda" e assim por diante, até a hora da última contração em que o bebê nasce. Para todos os que estavam na sala, assistindo à gravação da cena, foi um momento emocionante, porque o diretor não estava distante, pedindo ações para uma máquina. Ele estava junto, segurando a mão do seu ator e sentindo cada movimento, cada respiração, eram uma única pessoa.

Estávamos com uma câmera péssima, que ou faz foco ou bate branco, na mão porque o tripé tinha ido não sei para onde, eu filmei algumas cenas e um aluno outras, porque o câmera oficial estava ocupado, mas não é isso que importa. Nesse momento, o importante é saber que estamos fazendo algo verdadeiro, algo em que o futuro diretor acreditava, que o ator tomou como sua verdade, e que estava sendo esculpido no tempo como uma experiência real. E a cena ficou boa de assistir, ficou com o espírito, o pulso da cena do Pelechian - e era um menino, era em cima de uma mesa, num estúdio, com luzes de serviço. Eram dois meninos buscando... E eles encontraram. Mesmo quando a gente não sabe exatamente o que está buscando, sabe quando consegue encontrar. E nós, na sala, fomos cúmplices desse encontro.

Além dessa, tivemos outras grandiosas experiências, alunos que diziam "eu não consigo chorar" chorando na cena, alunos ajudando na cena dos outros, diretores pedindo desculpas por estarem nervosos e descontarem nos atores e vice-versa. Aplausos ao final das cenas que gravávamos, intimidade entre os diretores e suas equipes, exercícios especialmente elaborados pelos diretores para ajudar seus atores a entrar no clima da cena, objetos, doces, risos, correria - porque, em 3 tardes, gravamos 26 cenas. Todos dirigiram e atuaram em até quatro cenas diferentes. E tivemos de tudo, drama, romance, musical, comédia, mais romance, mais drama, cena com tapa, com tiro, com choro, briga de amigo, de irmão, de casal, paixões. Tudo o que eles estão vivendo e querendo entender. Tudo o que motiva seus trabalhos hoje.

Reunimos a turma toda na FAP (Faculdade de Artes do Paraná) para ver as cenas gravadas e a aluna Márcia Galvan anotou algumas impressões suas e relatos de colegas. “Houve muita emoção, pois, para muitos, era a primeira vez que se viam na telona, atuando ou dirigindo. Foi perguntado sobre sua experiência individual, como havia sido o processo, o que aprenderam ou perceberam, o que tinham para dizer a respeito da experiência com Interpretação e muitos relatos sinceros apareceram, de um aprendizado acadêmico e humano real, palpável.

Por exemplo: 1) Natiele Cunha comentou que “o processo foi, acima de tudo, divertido. Eu já tinha dirigido antes, mas não feito exercícios com base em teóricos do teatro como agora. Percebi que se pode fazer uma infinidade de coisas para se conseguir chegar a um resultado”.

2) Cauê: “Pra mim foi muito interessante fazer essa disciplina, e o mais importante foi perceber que cada pessoa funciona de um jeito. No começo, eu estava impondo aos atores o que eu queria que eles fizessem. Depois, fiquei pensando em casa e até pedi desculpas pros meninos (Fernando e Eduardo), pois cada um funciona de um jeito e você tem que trabalhar com cada um da forma como ele funciona, ir “comendo pelas bordas” até chegar ao resultado que quer. Mas eu gostei bastante, fiquei muito orgulhoso dos dois”.

3) Stephanie Thomas: “Bom, eu até já havia dito isso pra eles (Marcela e Rodrigo) que como eu faço Artes Visuais lido com tintas diferentes, materiais moldáveis e pra fazer esculturas e é muito difícil moldar as coisas, misturar tintas pra chegar naquela cor que você pensou. Então, achei que dirigi ator é parecido, pois você vai fazendo exercícios malucos pra moldar o texto e a cena como você quer, faz exercícios que seguram o outro pra falar o texto, ou falar o texto sempre no diminutivo, de modo cínico, ou muito íntimo, musical, gritando o tempo inteiro. Assim, eles foram conhecendo o texto e adaptando a sua forma ao que estavam dizendo. Foram muito bem, gostei muito”.

4) Eduardo Azevedo: “Adorei trabalhar com o Rodrigo, pois tudo que eu propunha ele aceitava. Nos ensaios, tentamos fazer um ritual. Chegávamos, sentávamos e conversávamos sobre a cena, fazíamos exercícios e começávamos a passar a cena. Mas eu não queria marcar nada, marcar a cena ou dizer o que ele deveria fazer. Eu queria chegar num estado em que ele somente reagisse ao que estava acontecendo. E gostei muito do resultado, o Rodrigo é excelente. Em relação às aulas, pra mim funcionou muito como terapia, pois para gravar as cenas nas quais eu atuo foi um grande conflito. A minha visão de ator mudou bastante”.

Como esses alunos-artistas que dividiram comigo seu tempo, seu trabalho e suas expectativas eu também não sabia o que estava procurando quando insisti para “pegar” essa disciplina mesmo que aos sábados... E eu encontrei a minha resposta.


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